"Que Maria, Mãe da Esperança e Estrela do Advento, nos conduza ao encontro com Jesus. E que, quando chegarmos ao Natal, possamos reconhecê-l’O não só no Presépio, mas em cada vida"
Mensagem do Patriarca de Lisboa ao clero e comunidades cristãs no Advento de 2025
Entramos no novo Ano Litúrgico com o dom imenso do Advento, este tempo de expectativa luminosa, em que a Igreja inteira se coloca em vigilância diante do Senhor que vem. Em Lisboa, o Advento de 2025 nasce marcado por uma grande alegria: as ordenações de um presbítero e de treze diáconos, celebradas no início deste tempo de graça. Não é apenas um acontecimento para alguns; é um sinal dado a toda a Diocese. As ordenações recordam-nos que há um chamamento inscrito no coração de cada batizado. Deus não chama só alguns – chama todos. Chama-nos à comunhão com Ele, à entrega da vida, ao serviço desinteressado, sobretudo dos mais necessitados. O Advento, com as ordenações, lembra-nos que não caminhamos para uma fé de espectadores, mas para uma fé de discípulos que se deixam encontrar, seduzir e enviar pelo Senhor. Lisboa entra no Advento como uma diocese que escuta a Voz de Deus e deseja responder: Eis-nos aqui, Senhor. Fá-lo em nós e através de nós.
O Advento é, por excelência, o tempo da esperança. Não uma esperança vazia ou adiada, mas aquela que nasce da presença viva de Cristo no meio de nós. A liturgia repete-nos com insistência: o Senhor vem. Não apenas virá um dia gloriosamente, mas vem agora, silenciosamente, humildemente, na Eucaristia, na escuta da Palavra, na caridade fraterna, na vida de cada comunidade cristã. O essencial da vida cristã – justamente o que tantas vezes se deixa para trás – chama-nos com a força de uma urgência amorosa: Cristo é o centro da nossa vida. O Advento é um convite a recentrar o coração, a reordenar prioridades, a deixar cair o que é supérfluo para abraçar o que permanece: a presença de Jesus que nos acompanha nas alegrias e nas lágrimas, nas lutas e nos cansaços, nos sonhos e nas feridas. Esperança não é esperar um futuro incerto — é reconhecer Cristo que caminha connosco.
Mas o Advento é também tempo de solidariedade e comunhão. Vivemos num mundo inquieto, marcado pela violência, pelo insulto fácil, por atentados sistemáticos à dignidade da pessoa humana e à liberdade dos povos. Como cristãos, não podemos habituar-nos à indiferença. A esperança cristã não anestesia; mobiliza. Hoje, o nosso pensamento e a nossa oração dirigem-se, de modo particular, aos países feridos pela guerra, onde o sofrimento dos inocentes clama ao Céu. E é impossível viver este tempo santo sem recordar a Terra Santa – a terra onde nasceu Jesus, onde João Batista anunciou a conversão, onde Isaías sonhou a paz universal. Rezamos pelos povos martirizados – como a Ucrânia –, por todos os que sofrem perseguição, fome, luto e medo – entre os quais, não podemos esquecer os nossos irmãos cristãos perseguidos em todo o mundo, recordando especialmente os do Sudão e da Nigéria. Rezamos por aqueles que constroem a paz enquanto outros levantam armas. Rezamos para que, no coração da humanidade, volte a surgir o deserto do Advento – onde Deus nos fala ao coração e nos reconcilia.
Queridos irmãos e irmãs, iniciemos o Advento com humildade e com confiança. Que cada família, cada comunidade, cada paróquia faça deste tempo um caminho de escuta, de esperança e de caridade. Que ninguém passe ao lado da voz de Deus, que ninguém fique indiferente à dor dos irmãos.
Que Maria, Mãe da Esperança e Estrela do Advento, nos conduza ao encontro com Jesus. E que, quando chegarmos ao Natal, possamos reconhecê-l’O não só no Presépio, mas em cada vida, em cada pobre, em cada excluído, em cada ferida do mundo à espera de ser curada pelo amor.
Com votos de santo Advento e a bênção de Deus,
† RUI, Patriarca de Lisboa